terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

Os “antigos” trens a vapor da RFFSA

Os “antigos” trens turísticos puxados por locomotivas a vapor, — a popular “Maria-Fumaça”, — são um fenômeno recente, posterior à implantação generalizada da tração diesel-elétrica e ao sucateamento quase completo da frota de máquinas movidas a carvão e a lenha, ao final da erradicação de milhares de quilômetros de linhas e ramais considerados “antieconômicos”.
Embora fortemente influenciada pelo movimento de preservação da memória ferroviária, — que começava a se articular em torno da ABPF fundada em 1977, por iniciativa do francês Patrick Dollinger, — a criação desses “museus dinâmicos” representados por trens turísticos a vapor ganhou seu primeiro grande impulso através daRFFSA — no curto período em que foi presidida pelo ferroviarista e preservacionista Osiris Stenghel Guimarães, — quando a própria empresa estatal já estava nitidamente marcada para a extinção.

I - Trens “de montanha

É verdade que já existiam ferrovias e trens turísticos no Brasil, — porém sem motivação preservacionista, — e sem tração a vapor.
1884 - Estrada de Ferro do Corcovado
1914 - Estrada de Ferro Campos do Jordão
196? - Trens turísticos Curitiba - Paranaguá
Desde o início, — ainda no Império, — a EF do Corcovado foi concebida para a exploração de um mercado "turístico", à imagem de serviços já então existentes na Suíça, por exemplo, e um hotel-restaurante era peça fundamental do projeto. Como "programa de lazer", esse “passeio” já era comum, a cavalo, desde a época da Independência. E só meio século mais tarde, na década de 1930, o monumento ao Cristo Redentor viria reforçar a segunda parte do roteiro, até o mirante no topo da montanha.
O projeto da EF Campos de Jordão também guardava semelhança com serviços existentes na Suíça, — uma estância climática nas montanhas, para a cura de doenças pulmonares, — e só a partir da década de 1960 teve seu foco mudado para o mercado de "turismo", embora já atraísse público por simples lazer.
Ambas foram eletrificadas ainda no início do século XX (19101924), e a locomotiva a vapor é uma lembrança muito remota, ou mera atração eventual, — um tanto “artificial”, e bem recente. — E ambas haviam chegado ao fundo do poço, nas décadas de 1960 e 1970, em paralelo à erradicação de trilhos e sucateamento de locomotivas a vapor no resto do Brasil.
A antiga ferrovia Curitiba-Paranaguá, pelo contrário, foi construída para o transporte geral, visando a ocupação e o desenvolvimento econômico do planalto paranaense, vencendo a Serra do Mar, — embora desde as décadas de (1930?) e 1960 já se investisse em alguns trens especificamente de "turismo".
Nos três casos, paisagens e clima “de montanha”, — não a preservação da história ferroviária, nem o vapor, — eram a motivação principal.
Por esse mesmo enfoque, ferrovias realmente antigas, — para Petrópolis, Teresópolis, as estâncias das Águas do Sul de Minas, — também já haviam atraído bastante movimento “turístico”, em outras épocas, sem terem essa finalidade. Do mesmo modo, balneários e cassinos, em sentido inverso, — e pouco ou nada restava, no final da década de 1970, frente ao alcance muito mais amplo da aviação e do automóvel particular.

II - Reação ao desmanche

Os museus e os trechos restantes da EF Madeira-Mamoré, da “Bitolinha” da EF Oeste de Minas e do antigo traçado da Cia. Mogiana de EF entre Campinas e Jaguariúna (VFCJ) foram “criações” bem mais recentes, — em grande parte, fruto de esforços que começavam a se articular em torno da ABPF — para salvar um pouco do que ainda restava do suceateamento de dezenas de milhares de locomotivas a vapor e do Programa de Erradicação de Ramais Ferroviários Anti-Econômicos, aprovado pelo governo Jânio Quadros (1961) e posto em prática como um trator pelos governos a partir de 1964.
1981 - EF Madeira - Mamoré
1981 - S. João del Rei - Tiradentes
1984 - VF Campinas - Jaguariúna
Nesse grupo, enquadram-se a criação do Museu e Trem Turístico da EF Madeira-Mamoré em 5 Mai. 1981; e a criação do Museu e Trem Turístico da EF Oeste de Minas, em 28 Ago. 1981, — fatos e datas de caráter mais “oficial” do que “efetivo”, — desde então, sujeitos às oscilações de diferentes entidades públicas e estatais.
Em 14 Jul. 1984, finalmente a ABPF inaugurou seu Museu e Trem Turístico VF Campinas-Jaguariúna, — que, desde então, tem sido o percurso mais sólido e permanente, nessa área.

III - Turismo a vapor na RFFSA

Locomotiva 1893 em São João del Rei, 1993


A posse de Affonso Camargo no Ministério dos Transportes e de Osiris Stenghel Guimarães na presidência daRFFSA — no governo organizado por Tancredo Neves, com início em 15 Mar. 1985, — foi o ponto de partida para a implantação de vários trens turísticos a vapor.

Em Dezembro daquele ano, já corriam vários trens turísticos da RFFSA — embora apenas em caráter “inaugural”, ainda sem agenda regular:
1º Dez. 1985 - Fortaleza à Serra do Baturité
26 Dez. 1985 - Curitiba a Lapa
Janeiro 1986 - Tubarão a Criciúma
Para torná-los realidade, — com operação regular, — foi necessário recrutar ferroviários já aposentados, habilitados a reativar antigas oficinas de locomotivas a vapor, cujas peças precisavam ser feitas artesanalmente, para recuperá-las; além de remodelar trechos abandonados ou sem condições de segurança para o tráfego de passageiros.

Fev. 1986 - Curitiba a Lapa
30 Mai. 1986 - Ouro Preto - Mariana
19 Jul. 1986 - Conrado - Miguel Pereira
30 Set. 1986 - Paranapiacaba (Funicular)
Também foi ensaiado um trem a vapor entre a estação da Luz e Paranapiacaba, — tracionado pela locomotiva nº 353 “Velha Senhora” da EFCB — e, para as férias do final do ano, o governo paulista restabeleceu o percurso completo da Estrada de Ferro Campos do Jordão para fins turísticos.
A ideia da preservação ferroviária, — ancorada em trens turísticos a vapor, — parecia uma realidade estabelecida, com o Calendário Fresinbra 1987 — “A volta da Maria-Fumaça”.
FONTE BLOG CENTRO OESTE— … Flavio R. Cavalcanti - 21 Nov. 2016•’ … —

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