Mais de 70% das oportunidades de emprego estão historicamente localizadas no centro no Rio de Janeiro. Essa é uma das conclusões da etapa de Diagnósticos e Visão de Futuro do Plano Metropolitano que mostra que, mesmo com a expansão das fronteiras entre municípios e do fortalecimento de outras centralidades, como Campo Grande, Barra da Tijuca e Niterói, a oferta de emprego continua concentrada na capital da metrópole. O resultado é, entre outros, o aumento constante nos problemas de mobilidade, com uma taxa média de deslocamentos e viagens de mais de uma hora dos municípios para a capital.
“É importante que o Plano Metropolitano mostre caminhos para fortalecer as centralidades, para a construção de uma metrópole polinucleada, e não mononucleada como tem sido ao longo dos últimos 40 anos. É necessária uma melhor distribuição do emprego e do desenvolvimento dos municípios para gerar cidades mais empoderadas, com melhor qualidade de vida”, afirma Vicente Loureiro, diretor executivo na Câmara Metropolitana do Rio de Janeiro.
O PDUI/RMRJ está sendo desenhado com o objetivo de encontrar soluções em dois caminhos: reduzir a dependência de empregos da Região Metropolitana com a cidade do Rio de Janeiro e encontrar setores capazes de dinamizar a economia metropolitana. Uma das preocupações é diversificar as atividades econômicas existentes na Região, para reduzir os riscos de crises. Uma das causas, por exemplo, dos problemas financeiros enfrentados pelo estado do Rio de Janeiro é a forte dependência ao petróleo, cujo preço reduziu nos últimos anos, o que levou a uma queda das receitas estatais.
O Diagnóstico
O Centro do Rio de Janeiro possui mais de 500 mil postos de trabalho, contra aproximadamente 180 mil na Barra da Tijuca, segunda área com maior concentração. O bairro da zona oeste foi uma centralidade criada pela iniciativa privada, mas que já possui vida própria e uma oferta significativa de emprego para a população da capital e das cidades metropolitanas. “É curioso que quem trabalha na Barra não mora lá, e quem mora, não trabalha. Não há sistema de transporte que dê conta dessa superconcentração, o que a torna uma centralidade insustentável do ponto de vista contemporâneo. O emprego precisa mudar de CEP. Sendo assim, distribuir melhor as oportunidades é o grande objetivo que estamos perseguindo nessa tentativa de modelar a metrópole”, completa Loureiro.
Campo Grande é outro município que chama atenção pelo grande crescimento nos últimos anos. Possui uma área extensa, com uma taxa entre 75 mil e 100 mil empregos, mas muitos destes, concentrados em áreas pobres, como Santa Cruz e Itaguaí. Outras centralidades como Niterói, São Gonçalo, Caxias e Nova Iguaçu têm mostrado grande potencial para crescimento e desenvolvimento.
Atividades produtivas relacionadas aos potenciais econômicos dos municípios
– Potencial logístico (boa localização): Belford Roxo, Guapimirim, Itaboraí, Itaguaí, Magé, Maricá, Niterói, Queimados, Rio Bonito, Rio de Janeiro e São Gonçalo.
– Potencial turístico: Belford Roxo, Cachoeiras de Macacu, Guapimirim, Itaboraí, Itaguaí, Magé, Mesquita, Niterói, Rio Bonito, Rio de Janeiro e Tanguá.
– Potencial para indústria criativa (mão de obra qualificada – média ou alta): Cachoeiras de Macacu, Nilópolis, Niterói e Rio de Janeiro.
– Potencial para indústria criativa (mão de obra de média e baixa qualificação): Niterói, Rio de Janeiro e Baixada Fluminense.
– Potencial para complexo da saúde: Belford Roxo, Duque de Caxias, Maricá, Nova Iguaçu e Rio de Janeiro.
– Potencial para instalação de novas empresas: Duque de Caxias, Guapimirim, Itaguaí, Japeri, Magé, Nova Iguaçu, Queimados, Rio Bonito, São Gonçalo e Seropédica.
– Potencial agropecuário: Cachoeiras de Macacu, Duque de Caxias, Guapimirim, Japeri, Magé, Paracambi, Rio Bonito, Seropédica e Tanguá.
Os conhecimentos acerca da realidade socioeconômica dos municípios da RMRJ e sobre quais setores possuem potencial para expandir ou dinamizar a economia local são fundamentais para se chegar às melhores soluções. De acordo com o diagnóstico do PDUI, os campos que mais podem dinamizar a economia da RMRJ são o turismo (pelos grandes patrimônios naturais e culturais da região), o complexo da saúde (devido ao grande número de especialistas na área, ao potencial universitário da RMRJ e ao corredor tecnológico, projeto de forte representatividade no PDUI/RMRJ), a expansão da estrutura de logística (em função da grande costa marítima existente no local, a exploração dos portos é imprescindível) e a economia criativa. Na RMRJ, em 2015, havia 35.287 estabelecimentos relacionados à indústria criativa. A cidade do Rio de Janeiro respondeu por 75,1% destes estabelecimentos, chegando a concentrar 95% dos estúdios e produtoras de filme. Niterói é o município com a segunda maior concentração de estabelecimentos ligados á indústria criativa, com 2.295.
Como a capital tem maior número de atrativos e maior concentração de empregos, as atividades capazes de expandir a economia metropolitana se concentram no local. Mas é comum, em Regiões Metropolitanas, que a principal cidade possua maior quantidade de empregos do que as demais. No entanto, essa diferença é mais acentuada no Rio de Janeiro em função de um longo período de políticas desarticuladas com os outros municípios que integram a Região. A comparação entre a população e a oferta de emprego proporcional em diferentes metrópoles do Brasil (quadro abaixo) mostra que, em 2015, havia uma diferença de 17% entre empregos e população na capital fluminense, indicando que, no mínimo, 1,2 milhões de pessoas têm que se deslocar para o município do Rio de Janeiro para trabalhar.
Para Vicente Loureiro, é preciso uma forte política de estado para mudar essa realidade: “Não é da noite para o dia, não se tira o emprego daqui para ali. É preciso crescer para distribuir melhor essas oportunidades. Temos bons exemplos, como São Paulo e Belo Horizonte, mostrando que é possível refazer essa distribuição”, conclui.
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